sexta-feira, 12 de junho de 2009

Sexta-feira 12.

12 de junho, dia criado para nos lembrar que ou estamos sozinhos ou alguns reais mais pobre.
Acordo, tomo algo quente, faz frio, e abro um livro, eu que já estava conformada com estar alguns reais mais rica...

A Bruxa

[...]
De dois milhões de habitantes!
E nem precisava tanto...
Precisava de homem
que entrasse nesse minuto,
recebesse este carinho,
salvasse do aniquilamento
um minuto e um carinho loucos
que tenho pra oferecer.

Em dois milhões de habitantes,
quantas mulheres prováveis
interrogam-se no espelho
medindo o tempo perdido
até que venha a manhã
trazer leite, jornal e calma.
Porém a essa hora vazia
como descobrir homem?

Esta cidade do Rio!
Tenho tanta palavra meiga,
conheço vozes de bichos,
sei os beijos mais violentos,
viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
de mão, afetos, procuras.
Mas, se tento comunicar-me,
o que há é apenas a noite
e uma espantosa solidão.

Companheiros, escutai-me!
Essa presença agitada
querendo romper a noite
não é simplesmente a bruxa.
É antes a confidência
exalando-se de uma mulher.

(Carlos Drummond de Andrade, livro José.)

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