sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Cidade Invisível

Quando conquistamos uma pessoa, aquele passa a ser um território a ser explorado. É excitante conhecer suas curvas, suas formas, o que mostra e também aquilo que esconde em suas profundezas. Mais adiante passamos da caminhada aprazível para a saga exploratória, onde descobrimos não apenas o oculto, mas também as suas causas e seus desdobramentos.

A exploração nunca é delicada ou unilateral, por onde passamos transformamos e ao mesmo tempo somos transformados. Nunca saímos ilesos de uma jornada. E aquelas terras até então desconhecidas, passam a nos ser familiar, muitas vezes nos sentimos tão confortáveis que passamos a compreender aquela imensidão como espaço meu, se apropriando mesmo do perigo, do desconhecido, do feio.

Naquela terra construímos, não mais apenas da forma inconsciente de quem chega, mas na intenção de quem quer ficar. Um espaço seu num mundo de tantos, onde o riso é simples e a caminha é justa.

Os imperadores serão ainda admirados pela bravura e pelo êxito em conquistar grandes extensões de terras, mas a história nos demonstra que a tendência de todo grande império é ruir. Disse Calvino “é o desesperado momento em que se descobre que este império, que nos parecia a soma de todas as maravilhas, é um esfacelo sem fim e sem forma, (...) que o triunfo sobre os soberanos adversários nos fez herdeiros de suas prolongadas ruínas”. É o que o imperador obtém, os restos de terras desestabilizadas, grandioso em tamanho, mas de delicada volubilidade, e breve é o sentimento de perpetuidade.

Demasiadas são as fronteiras, que fragilizam essas terras, tantas são as entradas e saídas, e pouco é o controle que têm sobre as terras que agora pisam. Sedutora é a ideia de poder obter tanto, é o engodo histórico que nos torna colecionadores, sem perceber que estar em contato não é estar junto, estar ao alcance não é possuir. E tudo se desfaz, sem que estejamos cientes a que devemos estender a mão, como uma última e desesperada tentativa de tentar manter algo para que não se perca tudo, e então se percebe o pouco domínio que temos sobre nosso caminho, quando se anda a esmo.

Há demasiada melancolia em grandes terras desabitadas, talvez seja esse bucólico vazio um espaço cheio de significância que movimenta nosso pensamento, e que, de repente, nos faz deixar de seguir grandes imperadores para nos tornarmos proprietários do que cabe em nosso peito, um espaço pequeno para quem de fora vê, mas imenso para quem é capaz de mensurá-lo.

Imenso por conhecermos cada uma de suas arestas, seus vértices e suas faces. Pelo tempo que dedicamos, pela evolução que presenciamos, e pelo tanto que aquilo nos representa. Não mais terras desconhecidas, de línguas tão estranhas, e de gente incomunicável, mas aquele lugarzinho nosso, do tamanho do nosso conforto, preenchido de significados, não mais de vazios e procuras incompreensíveis a nós mesmos.


Há belezas que são perceptíveis a qualquer turista, mas as que mais me tocam, só são vistas por quem fica.