terça-feira, 26 de novembro de 2013

Um foco, uma fé.


    Somos uma geração desesperada por liberdade, embora não saibamos o que isso significa. Vivemos às sombras dos regimes ditatoriais, e buscamos nossos direitos a todo custo, confundindo permissão com ação. Somos uma geração sedenta por quebra de barreiras, inclusive aquelas que, de repente, tenham sido colocadas não por imposição, mas por um desejo individual. Ser moderno é romper com o passado. Só não sabemos ainda o que fazer com o que se desfez. Depois de cultivar tanta aversão à autoridade, não aceitamos liderança nem de nós sobre nós mesmos, criando uma anarquia coletiva confundida com uma nova ordem.

    Não sabemos exatamente onde está o erro, então culpamos de forma ingênua tudo que nos representa.
    Para se alcançar a liberdade de escolha, é preciso que hajam escolhas. Não escolher é estar aprisionado dentro de si próprio, na angústia de quem não conhece seus próprios desejos. O desejo por tudo é na verdade um desespero de encontrar onde vivem seus sonhos: um foco, uma fé. Onde você se reconhece enquanto indivíduo e não apenas mais um componente do sonho coletivo.
    Somos a sociedade livre, neoliberal, a sociedade do consumo. Quanto mais consumimos, mais nos impomos perante o grupo. E aí o desespero por ter tudo. Somos a sociedade do "100 livros que você precisa ler antes de morrer", e onde se lê livro, lê-se viagens, filmes, comidas, posições sexuais, experiências... Desejamos tudo tal qual um infanto, na concepção freudiana de infantil, sem antes medir a real satisfação que aquilo de fato nos trará. Acreditamos tanto no sonho coletivo, que nos retiramos das nossas individualidades, não dando nenhuma oportunidade a nós de conhecer os "100 aspectos sobre si que precisamos descobrir antes de morrer".
    Isso impede que a gente veja o nosso cotidiano para além de uma perspectiva meramente funcional, de satisfazer desejos - construído pelo discurso consumista - e não de forma transcendental, que engloba não só a criticidade, mas também um olhar poético e lírico.
    A maior restrição de liberdade é a que impomos a nós mesmos, não nos permitindo criar nossos próprios incômodos e nossas próprias satisfações. Estamos tão preocupados em retirar pelos e colocar peitos, que nos retiramos de nós mesmos, gastamos tanto tempo na superfície, que passamos a vida inteira sem conhecer nossa profundidade. E essa é, para mim, a ditadura que o homem parece estar ainda mais distante de se libertar.