A verdade é que ninguém ama ovo, nem mesmo gosta de ovo, do
ovo, por si só. É capaz que alguém venha me contrariar, mas direi ainda que
você não gosta de OVO, no máximo gosta de sensação que a excentricidade de
gostar de ovo lhe causa. A individualidade criada por esse gosto bizarro. O que
a gente gosta MESMO é do que o ovo se torna quando mergulha destemido em água
fervente, ou quando se entrega à frigideira, naquela troca de calor, um gruda e
desgruda, fritando até desidratar.
A gente gosta mesmo é do encontro, da transformação, do que
se torna. Após o encontro, o ovo nunca mais voltará a ser apenas um ovo, é
irreversível, é a arte do encontro.
Tô pra ver alguém que se deleite em um imenso pacote de
farinha de trigo, ou que se contente com uma colherada de açúcar refinado.
Ninguém gosta de ovo, ninguém gosta de farinha, a gente gosta é daquele bolo
quentinho, cheiroso, polvilhado de açúcar, confeitado em dias especiais,
basiquinho no dia-a-dia. A gente gosta é da imensidão de possibilidades de
transformar, de transformar cada coisa isolada em infinitos sabores.