segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Acrosticando

Cousa é essa que atormenta?
Retorce involuntariamente os músculos voluntários
Estribilha a perna ansiosa, enquanto
Todo seu rosto se contrai engolindo sal pelos olhos.
Inquieto o coração se desfaz
Nessa saudade injusta de quem não aceita
O destino dos seus encontros.


"So
lamente
uma vez"
(Leminski)

ImaginAção

Acordo com vontade de ver o sol se pôr,
e ele se põe todos os dias.
Não é por serem óbvias, ou recorrentes,
que tal coisa perde o encanto.

Eu que nunca vi o crepúsculo polar,
me satisfaz o imaginar.

Digo que não é estranho sentir saudade
dos cinco minutos passados, após cinco minutos.

Nem tão pouco a saudade do que nunca vivi,
aquilo que não foi
                             vive em minha imaginação.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

a mór

Ah, como gosto de um alguém carente, desesperado, dramático, intenso. Alguém que passe o dia na espera, fantasiando por onde estou. E quando ouvir o barulho do cadeado deitará depressa, se aconchegará entre as almofadas, montando o cenário perfeito de quem não me esperava, e fingirá que pouco se importou, mas quando eu chamar por seu nome, virá feliz me receber, me enchendo de beijinhos enquanto sinto o cheiro de seus cabelos que me pede para lavá-los. Ao me ver sorrir para outro, transbordará de ciúmes e pouco se importará com os meus próximos vinte sorrisos, por mais que adore cada um deles. Sabe que logo depois irei lhe agradar e, previsivelmente, me olhará com desdém, mas já conheço seu jeito mimado, lhe deito em meu colo e ficamos muito bem. Cada vez que eu partir se enroscará na minha bagunça, dormirá sobre minhas roupas e procurará meu cheiro pela casa, degustando a saudade de quem sabe que logo acaba. E brigaremos muitas vezes por pequenas tolices, a fim de afastar a monotonia da nossa paz, e nem precisamos nos guardar para os grandes conflitos, uma sintonia como a nossa não se desvia facilmente. Quando eu gritar se recolherá em si com cara de decepção e eu, ao tentar dormir sozinha, abraçada em meu orgulho, sentirei sua falta, e levantarei para lhe procurar e encontrarei ali, no corredor do meu quarto, virará o rosto num movimento de mágoa, mas ao perceber meus passos próximos voltará a me ver, e então sem nenhum orgulho nos abraçaremos, levo-lhe pra cama, e você me reclama um cafuné. Dessa maneira percebo o nosso amor infinito, e essa incomparável cumplicidade. Conto-lhe meus problemas, e você é capaz de me confortar apenas com seus olhinhos já cansados, mas que carregam ainda o mesmo brilho do primeiro encontro. Relaxa seu corpo cansado sobre o meu, e tranquilamente lambe minha mão, dessa maneira compactuamos nosso instinto de nos amar, e vejo em você a materialização dos meus gostos incomuns, e como é possível gostar tanto de um floco de algodão doce salpicado com azeitonas.

domingo, 20 de setembro de 2009

Invernáculo

[...]desastre de uma idéia
só o durante dura
aquilo que o dia adiante adia

estranhas formas assume a vida
quando eu como tudo que me convida
e coisa alguma me sacia

formas estranhas assume a fome
quando o dia é desordem
e meu sonho dorme

fome da china fome da índia
fome que ainda não tomou cor
essa fúria que quer seja lá o que flor

(O ex-estranho - Paulo Leminski)

sábado, 19 de setembro de 2009

Desabafo do estômago

Para quando meio hora demora mais que três dias a passar...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Ginkgo biloba ensina...




.... Se quiser aproveitar sua beleza terá que suportar seus odores.




Nota: Ginkgo biloba possui um fruto carnoso que, quando em decomposição, possui um odor fétido. Isso quase levou a espécie a extinção, essa que é a única árvore sobrevivente do grupo ao qual pertence. Mas, seu fruto é gostoso, então lhe deram uma trela...

importância importada.

Hoje acordei com saudade do que nunca vivi,
calculando quantos tempos tem em dois dias,
quem sabe assim não gasto algum tempo e logo será apenas um.
Então o amanhã se tornará hoje, e esse hoje logo será ontem,
e da espera ficará a saudade e uma nova espera.
Mas, se sei que vem, sou feliz por esperar.

Hoje um amigo me disse:
"Ter saudade até que é bom, é melhor que caminhar vazio."

domingo, 13 de setembro de 2009

Tá dominado.

Post apenas para sentir como é ter DOMÍNIO.
(ao menos de alguma coisa)

A tristeza que sorri.

Em minha infelicidade discreta, minha melancolia é quem sorri, a fim de proteger minhas pequenas alegrias chorosas, selecionadas com minúcia, e enganar os olhos cardíacos e gordos que não suportariam a beleza dessa minha alegria contristada, de certo sentiriam palpitações ao se aproximarem desse contentamento receoso que, por não subestimar a efemeridade dos risos, e as efermidades recorrentes, são alegrias de vida longa, cheias de curativos e cicatrizes, mas das quais jamais desisti e as enterrei. Não quero colecionar alegrias, nem renová-las. Quero cultivar cada riso que tão intensamente escolhi, seria deveras triste me perder entre os risos fáceis dos homens felizes, que encontram beleza nas coisas simples, e motivos para sorrir em cada mínima coisa. Tenho orgulho da minha infelicidade crônica, e até gosto de enxergar um mundo tão feio, com pessoas tão feias e de energia tão pesada. E dessa maneira me ativam os brios encontrar alegrias em um mundo triste, e beleza em meio a tantas visões desagradáveis e uma pessoa como você, entre tantas desnecessárias.

sábado, 12 de setembro de 2009

O Amor Bate na Aorta

Cantiga de amor sem eira nem beira,
vira o mundo de cabeça para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os óculos dos homens,
o amor, seja como for,
é o amor.

Meu bem, não chores,
hoje tem filme de Carlito.

O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei.
Cardíaco e melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos já maduros.

Entre uvas meio verdes,
meu amor, não te atormentes.
Certos ácidos adoçam
a boca murcha dos velhos
e quando os dentes não mordem
e quando os braços não prendem
o amor faz uma cócega
o amor desenha uma curva
propõe uma geometria.

Amor é bicho instruído.

Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que corre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se conversam
e que viajam sem mapa.
Vejo muitas outras coisas
que não ouso compreender...

(Carlos Drummond de Andrade)

Ciclo Monstrual

Passo três dias no meio fio,
meio seca, mas grata pelo que passou.
Nos próximos sete compenso o desencanto,
semana de bar, de cerveja, de pensar bobeiras e falar todas elas.
E agora são quatro dias arrancando os pelos,
passando um blush e um batom,
momento que antecede os próximos cinco,
o clímax do mês, pergunte a uma mulher,
de preferência não sua mãe.
Chegam os três dias de desaceleração da alma,
que tranquila aproveita o que está para acabar
e que não é o dinheiro, esse foi deixado no auge do bar.
Então chegam os seis dias de crescente solidão,
e, conseqüentemente, durante três dias e meio sangro.




Nota de rodapé: Não quero abandonadar o trema :(