domingo, 28 de junho de 2009

O título

Quis lhe dar um título perfeito,
titular perfeição na nossa mistura e nos ver em solução...
mas você é intitulável.
Quis lhe dar o vento, a ventura, aventura,
e aventurada fui quando descobri aventura no vento criado por seus movimentos.
Quis lhe dar um presente caro, e encarei o desafio
de lhe mostrar minha cara limpa, cara suja, cara amassada, descarada.
Quis lhe dar o arco-íris, e ofereci meus braços,
que arqueados lhe cabe de maneira exata.
Ofereci a íris dos meus olhos,
uma dupla fiel que insiste em lhe ver até em minhas pálpebras.
Uni, então, ver e tocar com um traço de mudez que tudo diz.
Então me destrinchei em sete cores,
reflexos vermelhos da minha alma,
que vez ou outra desbota-se laranja
ao conflitar com minha pele amarela,
fora invadido pelo indesejado verde-esperança,
e minha racionalidade azul, deparada
com a vontade viole(n)ta de lhe sentir,
se tornou insignificantemente anil.
Quis lhe dar o céu, e ofereci o da minha boca,
palavras, sorrisos, silêncios, e seu sabor.
Quis me dar a você, mas não me encontrei,
perdi minha cabeça e minha mente levitou,
lá de cima nada compreendia ao me ver fragmentada:
meu coração saíra pela boca e pulsava desenfreado,
meus pés estavam no ar, meu estômago na garganta,
e do meu peito dilacerado saíam borboletas eufóricas.
Quis lhe dar coragem, mas só tinha medo.
Queria lhe dar um radinho de pilhas,
com a esperança que, mesmo sem energia,
tocasse aí a canção que tocou cá.
Criei nós que só tinham força na minha ilusão,
quiçá eu soubesse dar um nó de marinheiro nas sensações,
para amarrar à você algum encanto válido que me mantivesse,
no seu desejo, na sua rotina, na sua procura.
e entre tantos nós desfeitos,
restou apenas um cego nó na garganta.

sensação avirgular

Permito que roube meu sono em prol de uma inspiração válida, não de idéias brilhantes, mas de combinações simples de palavras capazes de exprimirem o sentimento humano mais expressivo que é o sofrimento exagerado e carinhosamente cultivado do ego rejeitado compreendido por qualquer um que saiba traduzir a poesia de um não. (respira).

domingo, 21 de junho de 2009

beja mim?


ah, as mínimas coisas...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Vidrada

Eu, areia, passei por tantas mãos sempre a escapar por entre os dedos.
Você ofertando todo seu calor me fez vidro,
por suas mãos fui modelada um pote de esperanças,
e preenchido com deliciosas recordações.
Então esfriou, me pediu para endurecer, e depois me quebrou:
nem areia, que voa livremente.
nem vidro firme e íntegro,
apenas recordações espalhadas e feridas por
. e s . t . . i l h . . . . . . . . d e . . . e s . p e r a . . .
. . . . . . . . . . . a ç . o s . . . . . . . . . . . . . . . . n ç . a s .

domingo, 14 de junho de 2009

A metáfora do momento!

Era festa junina à antiga.Acendeu-se um balão.Meu balão.Sua chama era tão bonita, gostosa, aconchegante, que o mantive em minhas mãos por um bom tempo. As pessoas diziam que o normal, nessa situação, seria deixá-lo ir; mas eu não conseguia.Era bom ter aquela chama por perto.Depois de muito olhar para ela, fui tomada por pensamentos indagadores: Que sentido fazia ficar segurando aquele balão?O seguraria até que sua chama se apagasse, mas correndo o risco de me queimar?Ou o deixaria ir como era seu aparente destino?E antes que pudesse me decidir, um vento soprou.Fiquei lá, parada, olhando o balão se afastar, contra a minha vontade irracional, com sua chama ainda visível.Não voltava mais, eu sabia. Se voltasse, com ele voltaria o dilema.E por que é, então, que no fundo, sempre no fundo, eu tinha a esperança de que o mesmo vento que o levou o trouxesse de volta?

Conversa de bot(a)equim.

- Dói perceber que duas letras podem findar até o infinito.
- Ou tornar possível o impossível.
- As mesmas duas letras, com resultados tão divergentes.
- Onde nos inserimos ou de que nos excluímos também são grandes escolhas.

- Suave ou seco?
- Seco e natural, sem gelo.
- O vinho ou você?
- O vinho.
- E qual a diferença?
- Seco pra suave é uma mera questão de adição de açúcar.
- O vinho ou você?
- ...
- Não gosta de bebidas doces?
- Hoje não.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

O dia que Drummond resolveu me sacanear.

"Imagina uma ordem nova;
ainda que uma nova desordem, não será bela? [...]
A casa, com seu calor próprio; a despedida, com seu rosto sério;
o físico, viajante, afiador de facas;
o poeta, sempre meio complicado; o perfume nativo das coisas e seu arpejo; [...]
De tal maneira a vida nos excede e temos de enfrentá-la com poderosos recursos.
Mas seja humilde tua valentia. Repara que há veludo nos ursos."


"... E restam poucos encantamentos válidos.
Talvez um só, e grave: tua ausência."
(trechos de 'A Luis Mauricio, infante', livro 'Fazendeiro do ar', Carlos Drummond de Andrade)


Hoje o inverno amanheceu triste, o frio estava azul e a chuva desolada.

Sexta-feira 12.

12 de junho, dia criado para nos lembrar que ou estamos sozinhos ou alguns reais mais pobre.
Acordo, tomo algo quente, faz frio, e abro um livro, eu que já estava conformada com estar alguns reais mais rica...

A Bruxa

[...]
De dois milhões de habitantes!
E nem precisava tanto...
Precisava de homem
que entrasse nesse minuto,
recebesse este carinho,
salvasse do aniquilamento
um minuto e um carinho loucos
que tenho pra oferecer.

Em dois milhões de habitantes,
quantas mulheres prováveis
interrogam-se no espelho
medindo o tempo perdido
até que venha a manhã
trazer leite, jornal e calma.
Porém a essa hora vazia
como descobrir homem?

Esta cidade do Rio!
Tenho tanta palavra meiga,
conheço vozes de bichos,
sei os beijos mais violentos,
viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
de mão, afetos, procuras.
Mas, se tento comunicar-me,
o que há é apenas a noite
e uma espantosa solidão.

Companheiros, escutai-me!
Essa presença agitada
querendo romper a noite
não é simplesmente a bruxa.
É antes a confidência
exalando-se de uma mulher.

(Carlos Drummond de Andrade, livro José.)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

(des)abafo

Aula chata, caderno aberto, escrevendo na última página. Até que alguém me pergunta: 'O que você tá escrevendo?'. E eu respondi: 'Só estou conversando.'
Às vezes, abrir um caderno é como abrir a mim.



Tudo que fazemos inconsciente, leva consigo um bucado da nossa consciência que desconhecemos. Me pergunto: porque na última página? O caderno talvez represente a rotina, já separei as disciplinas na seqüência que as aulas acontecem, rotina propriamente dita, e até seqüenciando a minha preferência, rotina do meu prazer íntimo. E talvez, aquilo que somente o caderno sabe escutar, não caiba na minha rotina, não naquela rotina social, somente na minha rotina introspectiva, e o meu eu que engulo, não é o mesmo que vomito. Então vejo uma organização inconsciente, escrevo do fim para o começo do caderno para que minhas rotinas não se misturem, elas não se dariam bem. Do início para o final, e do final para o início, em um momento se tangenciam, é hora de mudar de caderno. O velho eu guardo, vez ou outra me deparo com o que era pra ser findo. A rotina que (des)abafo, consome em parte a rotina propriamente dita, mas essa, só se dá conta, quando vê seu espaço tomado, e como a rotina busca o modo mais fácil de se repetir, simplesmente começa-se um caderno novo, folha em branco. Mas os antigos cadernos, fechados, podem ser abertos por um leve sopro. Faz parte da minha rotina ser desajeitada: ontem tropecei num armário e derrubei um caderno.


Ctrl+O

Encanto lógico.

Um homem perfeito seria racionalmente irracional.
Positivo, vez ou outra negativo, para sê inteiro.
Que seja complexo, uma parcela imaginária ornamenta a real.
Natural, infinito, mas não inconstante.
Acho que quero uma dízima periódica.

Muito gelo e dois dedos d'água.

- Muito gelo e dois dedos de água, não é o seu uísque. É você. Você é um iceberg dentro de uma piscina de plástico.
- Não entendi.
- Não? O seu coração tá gelado, com só dois dedos de emoção circulando dentro.
- Hum.
- Você devia derreter um pouco desse gelo, deixar a emoção fluir.
- Eu já entendi, mas acho melhor a gente abandonar essa metáfora.
- Esquece.
- Não, fica. Pode ficar. Eu tava gostando do assunto, só cansei da metáfora.
- Você quer mudar de metáfora ou falar sem metáfora?
- Falar sem metáfora.
- Ok. Eu acho que às vezes você pode deixar escapar emoções na vida porque seu coração tá frio, fechado para as emoções.
- Eu acho que você era melhor com metáforas.
- Ok. Digamos que você é a Antártida e eu o Amir Klink, por mais que o Amir Klink goste da Antártida e queira ficar mais tempo lá o clima gelado não permite, a frieza da Antártida repele o Amir, entendeu?
- A Antártida pede desculpas pro Amir Klink, mas foram as condições ambientais que deixaram ela assim.
- Mas, o Amir gosta da Antártida do jeito que ela é. Linda, branca, misteriosa, ela só precisa ser menos...
- Se você ficar dando bobeira na minha frente eu vou fazer o meu Top de cinco segundos com você.
- Fazer o quê?
- Eu tenho um top de cinco segundos para as coisas acontecerem. Entendeu?
- Entendi. Dói?
- Não, quer dizer, possivelmente sim, mas só depois, um dia...
- Eu topo.


Top de cinco segundos
...


... para as coisas acontecerem.

Um exemplo pro cinema nacional. Recomendo.
vídeo da cena: http://www.youtube.com/watch?v=KQDYuM_TLLU

terça-feira, 9 de junho de 2009

sen
ti
mento
minto
monto
munto
muito
só.


"Vivemos num mundo em que nos escondemos para fazer amor enquanto a violência é praticada em plena luz do dia.”
(John Lennon)

domingo, 7 de junho de 2009

Os últimos romances



Há quem procure um amor para vida toda, e não me excluo dessa posição, mas aprendi desde criança a não cometer abusos, querer a perfeição toda para mim e então devorá-la, seria uma mistura de gula, soberba, vaidade e egoísmo. Se quem procura acha, e só se procura o que está perdido, procurar, então, me parece impróprio, não quero alguém que esteja perdido nesse mundo, quero alguém encontrado, ninguém se perde por acaso, os perdidos não se atentam ao caminho e ao que passa. Notei então, que o ser passível de ser eterno me viria em parcelas, como se a minha alma gêmea tivesse caído nesse mundo, sem nenhuma idealização ou poesia, chegara até mim em um tombo desajeitado, e se partido em dezenas de pequenas almas, almalóides, pedaços da alma que me parece perfeita. E cada almalóide se fez um homem. Distribuído a esmo e à gosto pela minha história, e tive que cativar e conquistar cada uma dessas almas perfeitas, pois, há de existir merecimento, o bem vem para os bons e meu amor eterno se distribuiu em personagens e minha história de amor em capítulos: em um momento encontro confiança e respeito; em outro segurança; em outro intermináveis motivos para sorrir, dançar, pular, escrever; em outro um tesão inexplicável; outro a inteligência, esperteza, e perspicácia que me encanta; em outro uma mudez que me diz tudo que quero ouvir; outro boniteza sem beleza, outro beleza sem boniteza, outro me dá as aventuras que nem minha mente aventureira planejou; outro que me surpreende, que me renova, me desdobra; outro tão meu avesso que me faz o ser mais completo e com todas as faces da humanidade que aprecio; outro que sou toda instinto, naturalmente animal; outro que me faz sofrer, chorar, conhecer todo o azedume da dor, e como ninguém saber degustar cada segundo do doce em meu paladar; outro que me manda flores; outro que concorda; outro que discorda; outros... Uns podem me doar sua perfeição em uma noite, outro levar anos para isso, mas a intensidade independe do tempo, assim como o papel cumprido em uma história. Não haverá quem diga que não encontrei o amor eterno, pois, em nenhum momento terei me afastado dessas sensações, haverá todo o tempo adrenalina, feniletilamina, "paixãozina" percorrendo meu corpo por dentro, e por fora suor, rubor nas maçãs do meu rosto, e minhas pupilas dilatadas. Amarei incansavelmente cada um desses homens, e no fim da minha vida poderei dizer que encontrei um amor para a vida toda, pois, a vida toda soube amar o melhor que cada um dos homens que passaram tinham a me oferecer, e agradecerei ao acaso por ter me entregado minha'lma gêmea em parcelas, logo que, se me viesse de uma só vez, poderia ter me perdido em todas as suas faces, e deixado de enxergar cada uma das suas expressões, talvez não fosse capaz, na minha posição humana, de não pecar, de não permitir que a minha gula devorasse rapidamente a delícia que é a paixão. Pude então degustar calmamente cada pedaço do que me alimentava, e amando aos pouquinhos pude ser justa com todas as formas de amor, me dando, e o recebendo, pouco a pouco, com a tranquilidade de um idoso, e a intensidade de uma criança, e no fim, se é que ele chegará, feliz sou por não saber se o amor é findável, terei amado para sempre, não todo o amor que houver nessa vida, mas todo o amor que houver em mim.

:)

E eu que pensava ter tanto a dizer
vi tudo se resumir em um sorriso,
me dizendo como dois olhos dizem
que a imensidão de sensações se torna breve frente às criações humanas,
pois, somente a natureza sabe ser plena
e os homens, que têm todas as palavras em seu corpo,
criam formas de não se entenderem:
letras, símbolos, números, regras...
formas de dizerem o que vivem, ao invés de viverem o que dizem.
querem viver com métrica, e enriquecer até suas rimas.
mas, o viver é dadaísta, surreal: empírico.

Beca Moreno

"O sorriso das estrelas"