segunda-feira, 28 de julho de 2008

Um ninguém José.


Há certos momentos na vida que nos perguntamos se destino existe. Se nascemos para trilhar um caminho já estabelecido por deuses. Se a sorte que hora nos dá as mãos, hora as costas, realmente age assim ou se tudo é questão de competência.
Um poeta acorda numa casa afastada do centro. Em um daqueles estados brasileiros que poucos lembram o nome de sua capital - deve ser menos importante que Washington DC - e escreve o sentimento que, naquela manhã susurrou no seu ouvido: "Levanta José, o dia é mais seu que essa casa que vc usa pra se esconder do mundo". E lá vai ele. Com a faca que cortou tanta cana pra ganhar algum dinheiro aponta um lápis achado, que serve pra rabiscar palavras sinceras e fáceis de entender em um papel qualquer. Queria colocar aqui as palavras de José. Mas elas não chegaram até mim.. Não chegaram a ninguém que eu conheço. E não vão chegar. José nunca terá um sobrenome, nem dinheiro, nem dará autógrafos (isso pra sorte dele). Isso não quer dizer que ele não encanta com o modo de ver e escrever o mundo. Aliás, sobre o mundo que José vê - e que escreve - eu não sei. O que eu sei é que o poema que José escreveu, o quadro que Valéria pintou ou a música que Luis compôs tem muito mais valor artístico e cultural brasileiro que obras divulgadas de homens-magos que buscam inspiração em suas casas de retiro na França, Itália, Inglaterra. Pra escrever sobre o Brasil, que visita quando dá tempo? Sobre o mundo, que acha conhecer? Ou só ficções que passam em bairros de Macondo? Esses são os verdadeiros merecedores de uma cadeira na Academia Brasileira de Letras? Tudo bem, pra que chorar por José? Se nem Drummond, nem Vinícius de Moraes tiveram uma cadeira na ABL. Se conforme José, a cadeira 21 está vazia mas o dono dela está de olho. lá da Europa onde nem banquinho ele consegue fácil. Se conforme José, vc não precisa de cadeira ou Academia. Você tem os pés na cultura q vc ama.. Se conforme José, seja um bom brasileiro. Se conforme.

Um comentário:

Beca Moreno disse...

pelo título já imaginei que o texto era do ikaro, depois de umas 5 linhas eu tive certeza :}