segunda-feira, 10 de maio de 2010

Impressionismo

O corpo teme o tempo assim como teme a ignorância. O corpo teme a ignorância. A ignorância teme o tempo.
Não que a ignorância se perca após tantos invernos, mas a obrigam a conviver com o fato de ser sempre mal-quista. O tempo não entrega o nosso corpo à destruição isento de propósitos, o tempo protege o nosso corpo de se tornar uma estátua, um monumento. O que difere um homem de pedra são, aproximadamente, 21 gramas, para alguns: o peso da alma.
Pessoas alimentam seu corpo com sua alma. Põe todos os seus valores em curvas e esferas macias... E então se expõem ao sol para se aproximarem do ouro com sua pele dourada. Mas, essa é apenas uma maneira de se esmagar uma alma. Corpo e alma lutarão até que ambos definhem, lado a lado.
A alma alimenta-se do corpo, inevitavelmente. Dos joelhos, das cicatrizes e de um tanto de colágeno. Vejo no mundo, porém, milhares de almas anêmicas.
Revistas de moda não fazem com que eu me sinta feia, mas me fazem crer na existência de clones humanos. Horas a ver fotografias não mostram o que vejo em minutos de conversa, são nesses contatos que as almas se reconhecem.
Deve-se cuidar do corpo como quem aduba uma terra. Não esperar que a flor seja seu corpo, as flores de plástico podem durar um longo tempo, mas não possuem a beleza da transformação e da fragilidade. O corpo é a terra onde muitas coisas podem ser cultivadas. Há quem se satisfaça com uma flor de plástico, sendo essa suficiente como ornamento em uma estante. Mas, há quem cuide de um jardim e se orgulhe do que ali nasce, e jamais esquece a importância do que ali morre. Existindo um ciclo de renovação e não começos e fins esporádicos e desconexos.
A Beethoven fez-se necessário calar o mundo para que pudesse ouvir o que o fundo de sua alma sussurrava. E aquele que havia se indignado, foi surpreendido ao ouvir além do que ouvem os homens comuns.
Aceitar que o corpo definhe para que algo invisível dentro de nós seja visto pode parecer absurdo aos homens de boa visão, mas experimente ver o 'Nascer do sol' com os olhos doentes de Monet.

Nenhum comentário: